quinta-feira, 20 de março de 2008

Decidir

(Proposta de trabalho: escolher uma palavra e falar sobre ela)


Há muita coisa difícil na vida, como é o caso de escolher uma palavra e falar sobre ela, mas o mais difícil é sempre decidir, tomar uma decisão, essa escolha inevitável que nos persegue a toda a hora.
Estamos constantemente “parados no tempo” a pensar, a pensar, e a pensar e depois pensamos ainda mais até que acabamos finalmente por decidir alguma coisa. Às vezes é rápido, outras nem tanto …
Hoje, eu própria me deparei com a dificuldade de decidir que palavra iria escolher e somente após largos minutos de indecisão, face às inúmeras palavras que então me passavam pela cabeça, aconteceu aquilo que o dicionário define como: “
acto ou efeito de decidir”, palavra esta que deriva do Latim decidere. Com isto apercebi-me da importância desta palavra – decidir – e das suas implicações nas nossas vidas.

Pode dizer-se que somos obrigados a tomar decisões, fazer opções, escolhas, desde o dia em que nascemos e até ao preciso momento em que deixamos de existir elas funcionam como uma teia de aranha, é como o que se diz acerca da mentira: vêm umas a seguir às outras. Mas o mesmo acontece com as decisões, decidir uma coisa implica decidir um milhão de outras coisas que virão no seu seguimento. É um verdadeiro ciclo vicioso que nunca pára, a não ser com a morte!
É importante salientar que a palavra decisão está relacionada com o livre-arbítrio, isto é, a liberdade que (supostamente) temos nas nossas acções, de pôr em prática a nossa vontade própria, de escolhermos aquilo que consideramos melhor, porém, isto leva-me a uma questão: será esta uma liberdade real? Como pode sê-lo se ao tomarmos uma decisão somos automaticamente levados a muitas outras? É impossível não decidir, eu não posso acordar amanhã e decidir não decidir nada, até porque isso já é uma decisão. No fundo, ao decidirmos não decidir nada já estamos a decidir tudo e isto é uma decisão que nos transcende. Afinal como é que podemos afirmar convictamente que ter poder de decisão é pôr em prática o livre-arbítrio?
Note-se que esta não passa de uma verdadeira contradição, aliás, como todo este texto que eu podia ter decidido não escrever, o que talvez tivesse sido a melhor decisão.
Decidir não é fácil, já foi, quando eram os nossos pais a decidir por nós.

Quando somos pequenos não temos de decidir muita coisa, por mais que queiramos simplesmente não podemos. Eu não decidia se ia para a escola com o cabelo solto ou atado, era a minha mãe que decidia sempre fazer-me aqueles “totós” que eu detestava; era ela que decidia se eu ia com a camisola azul ou com a cor-de-rosa; era ela que decidia se eu podia ou não comer o chocolate; era ela que decidia a que horas me deitava; era ela que decidia se eu podia ou não ir brincar para a rua … Basicamente era ela que decidia tudo por mim, e por mais que eu decidisse não comer as ervilhas não tinha outro remédio a não ser comê-las.
Nessa fase da nossa vida nem nos damos conta da dificuldade que é tomar (ou não) uma decisão porque temos quem o faça por nós, e naquela altura achamos isso horrível porque queremos ser nós a decidir, e também porque não fazemos muita questão de comer os legumes.

Todavia, quando chega a tão esperada etapa da nossa existência em que finalmente somos nós quem decide apercebemo-nos de que se calhar não o queríamos assim tanto, ou porque custa, às vezes porque dói, outras porque nem sempre queremos, e sobretudo porque isso implica que sejamos pessoas grandes. E se quando somos pequenos temos muita vontade de ser grandes, quando acabamos por crescer chegamos à conclusão que dávamos tudo para voltar a ser pequeninos e a ter quem nos tirasse a árdua tarefa de … Decidir.

2 comentários:

Anónimo disse...

lindo!

Cátia d´O Arco da Velha disse...

Ehehe eu também já fiz isso em LEP ou TEP...
Escolhi a palavra "ligações" e os vários significados que ela pode assumir:P